sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Minha Experiência na Amazônia


Sucata, porco e peixes: vestígios de “civilização”
Na década de sessenta, Rondônia passou por um grande processo de colonização. Na época, o governo militar, com o objetivo de povoar a região amazônica, implantou o projeto “Integrar para não entregar”, que atraiu muitos migrantes atrás de trabalho e das terras baratas oferecidas nesta região.

Mas, o processo de colonização se deu também por meio da grilagem de terras e da exploração ilegal de madeira; em que se derrubou grandes áreas da Floresta. Prova disso foi uma experiência que vivi no ano de 2002, quando ainda tinha dezoito anos. Morava no município de Cacaulândia e certo dia fui convidado por alguns amigos para caçar numa reserva florestal localizada na região.

Após andar alguns quilômetros dentro da mata, comecei a observar que existiam carreadores antigos, enormes aberturas nas florestas e sucatas de caminhões e tratores já em elevado estado de decomposição que, imaginei, foram abandonados ali há muito tempo. Dentre os objetos, pude ver um pneu velho, o pára-choque de um caminhão, peças de tratores e até os restos de um motor elétrico.

Curioso, perguntei a um senhor, antigo morador da região que se encontrava naquela caçada conosco, o porquê daqueles objetos em plena floresta. Ele explicou que eram derivados de invasões que ocorreram naquele local nas décadas de 70 e 80 e que aquelas peças foram levadas para lá com o objetivo de acelerar o processo de abertura de estradas e da conseqüente exploração das florestas. Seu Antonio, como se chamava, disse que no local houve muitos conflitos pela disputas de terras e que, por se tratar de uma reserva, os invasores logo foram expulsos dali, deixando para trás muitos objetos. Aqueles eram, então, os resquícios da colonização que perduraram à ação do tempo.Impressionante como raízes e folhagens traçaram seu percurso por entre aqueles objetos. Fiquei rodeando o lugar e observando detalhes de um antigo veículo: uma pequena árvore brotava de dentro de uma sucata de cabine; o motor antigo parecia servir de adubo para as enormes raízes que o entrelaçavam; o pneu velho, juntamente com as folhas secas, formava uma parceria perfeita, como se estivesse servindo de ninho para algum determinado bicho da floresta; o pára-choque, que estava inclinado sobre um tronco caído, servia como um adorno naquele cenário rústico.

Com os relatos de seu Antônio e com o que via, lembrei-me muito dos tempos de colégio. Sempre ouvia falar da colonização de Rondônia nas minhas aulas de história, mas não imaginava que ali tão próximo poderia haver prova viva.

Medo de animais
Ao longo de nossa caçada, encontramos um rio chamado Quatro Cachoeiras, muito lindo por sinal, que tinha este nome exatamente porque, de sua nascente até a sua deságua, formava quatro cachoeiras de médio porte. O rio tinha muitos peixes e alguns moradores da região iam até lá para pescar, um de nossos companheiros de caçada levou um rede de pesca e resolveu armá-la num determinado trecho do rio onde a água parecia parar e formar um grande poço. Entramos no rio e, nossa, como a água estava fria! Mas, não desanimamos. Armamos a rede e seguimos caminho em busca de caça - essa rede só iríamos retirar no volta.

Seguimos o percurso do rio, adentrando cada vez mais na mata fechada. Quando já pensávamos em voltar, pois já passavam das cinco horas da tarde, avistamos um bando de porcos do mato, que pareciam devorar tudo o que viam pela frente e que pudesse ser comido. Eu, marinheiro de primeira viagem, senti as pernas estremecerem de medo dos terríveis porcos. Então começou a correria: os cachorros acuavam de um lado, os homens cercavam de outro, um deles sacou uma espingarda enquanto o outro já estava em posição de disparar, quando se ouviu um grito pedindo que não atirassem, pois do outro lado tinha gente cercando os porcos também.

E eu ali, parado, como se estivesse criado raízes no chão, tamanha era minha perplexidade diante daquela cena; fui interrompido de meu estado anestésico com o estampido de um tiro que ecoou por toda a floresta, como que numa enorme explosão. Silêncio. De repente, alguém perguntou: acertou? A resposta veio logo a seguir quando Mauro, um moreno alto e forte apareceu carregando nos ombros um enorme animal morto. O sangue banhava-lhe as costas, fazendo contraste com aquela pele queimada de sol. Aproximou do grupo, jogou o enorme porco no chão, sacou uma faca e começou a castrar o bicho. Curioso, perguntei por que castrar o animal depois de morto. Ele explicou que os porcos do mato, assim como os porcos domésticos, precisam ser castrados para não deixarem um cheiro forte na carne depois de limpa.

Depois disso, pegamos a trilha de volta, agora com uma carga extra. Já anoitecia e tínhamos que apressar o passo. Eu já estava exausto com toda aquela aventura, quando paramos novamente – só aí lembrei que ainda teríamos de retirar a rede que havíamos armado no rio. Dois de nossos companheiros pularam na água, verificaram a rede, identificaram os peixes e pediram ajuda de mais alguém para retirá-los da água. Para meu desespero, eu fui o escolhido. Em princípio eu disse que não. Mas, eles insistiram e eu acabei entrando no rio, mesmo com muito medo. Depois que estava lá dentro meu medo acabou e a emoção de estar pegando aqueles enormes peixes foi superior.

Ao sairmos do rio, já estava escuro. O caminho de volta foi um pouco complicado, pois só tínhamos três lanternas, mas, também fez parte de nossa aventura.

Dione dos Santos - estudante do 4º período de Jornalismo e bolsista do CCDA

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