quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Minha Experiência na Amazônia

Bucolismo na cidade

Acordei cedo naquele dia. Minha agenda estava lotada. Eram tantos assuntos para resolver que eu pensei que não conseguiria dar conta de todos. Vida de universitário não é nada fácil. Principalmente, quando você tem professores que adoram “recomendar” leituras e depois te mandam fazer análises, resenhas, matérias jornalísticas e provas. Eu não trabalhava fora e tinha o tempo para estudar, mas mesmo assim, não estava conseguindo finalizar os múltiplos trabalhos que os meus queridos mestres não paravam de passar.

Eram sete horas da manhã. Levantei, fui ao banheiro, joguei uma água no rosto, escovei os dentes e me dirigi à cozinha com a intenção de preparar um café. Quem sabe ele me desse ânimo para realizar os meus trabalhos?

Enquanto esquentava a água para coar o pó, fui para a varanda ver o tempo. O céu estava muito azul e não consegui avistar nenhuma nuvem tenebrosa que indicasse chuva. Algo realmente difícil de acontecer em Vilhena. Os raios solares batiam em meu rosto. Em pouco tempo eu estava vermelho e achei melhor aplicar o protetor solar antes de sair de casa.

Coei o café com rapidez e tratei de mandá-lo goela abaixo o mais depressa possível. Tinha de ir para a Universidade pesquisar alguns assuntos para um trabalho. Em seguida, comi um pedaço de pão amanhecido com a mesma agilidade que engoli o café, só que esse desceu com um pouco mais de dificuldade. Dei mais uma bebericada no líquido fumegante e pronto. Estava saciado, embora soubesse que após algumas horas teria uma azia brutal.

Antes de sair de casa voltei à varanda para estender minha toalha de banho e ouvi um barulho conhecido. Moro no terceiro andar de um condomínio não tão novo e espaçoso como eu gostaria que fosse (ele deve ter pelo menos uns vinte anos e seus apartamentos se resumem a um quarto, um banheiro, uma sala-cozinha e uma pequena varanda, tudo excessivamente pequeno), mas é o que o meu dinheiro (quer dizer, o dinheiro dos meus pais) pode pagar. Fazer o que? Quando decidimos sair do conforto da casa dos nossos pais para estudar fora é isso o que acontece!

Voltando ao assunto do barulho. Olhei para o terreno baldio à minha frente e nele havia uma grande goiabeira, muito mato, além do lixo que os vizinhos jogavam sem nenhum receio. O pé de goiaba. Era de lá que vinha aquele barulho estridente. Em uma primeira olhada não consegui visualizar nada, porém, ao deter meus olhos em um lugar específico (um galho mais acentuado da árvore) enxerguei pequenos seres de coloração verde. (não, não eram E.Ts). Eles subiam e desciam nos galhos da árvore se misturando com as folhas da goiabeira.

Um bando de periquitos esverdeados fazia a festa chalreando alto e comendo os frutos amarelos da árvore. Eu, que estava com pressa, parei para olhar aquele momento feliz. De repente, dois deles levantaram vôo e vieram pousar no telhado do condomínio, próximo do meu apartamento.

Corri para o quarto e peguei a minha câmera fotográfica digital. Era um momento que eu não poderia perder. Voltei para a varanda onde os verdes periquitos chalreavam com intensidade e me deparei com os dois tentando fazer um ninho entre o telhado e a laje. Havia um pequeno buraco que eles tentavam entrar, mas não conseguiam.

Disparei uma série de flashes em direção aos pobres passarinhos. Eles ficaram assustados e voaram para cima do telhado novamente.

Desanimado, visualizei as fotos e não gostei. Ficaram totalmente desfocadas. Coisas de um iniciante no mundo da fotografia. Quando achei que tinha perdido a chance de fotografar os periquitos, ouvi novamente o barulho de suas vozes. Fiquei feliz e tentei dessa vez não usar o flash da câmera.

Fotografei-os nas mais variadas posições. Achando-me o profissional em fotografia, subi no parapeito da varanda para ter uma visão melhor do casal que tentava inutilmente abrir com os bicos o pequeno buraco. Apertei o obturador da câmera e registrei aquele penoso momento. Só que eu esqueci que estava no terceiro andar e que, ao contrário daqueles passarinhos, eu não possuía asas. Me desequilibrei e quase caí lá de cima. Acho que isso assustou o casalzinho, que voou mais uma vez para o telhado.

Recuperei-me do susto e voltei para o interior do “apertamento”, desapontado. Visualizei as imagens e selecionei as melhores. Bem, aquelas que eu considerei menos fora de foco.
Guardei a câmera na mochila juntamente com o restante do material. Fui à varanda buscar o boné que tinha lavado no dia anterior e vi os periquitos empoleirados no pau onde estavam amarrados os fios do varal.

Olhei fixamente para os dois e me arrependi de ter guardado o aparelho fotográfico. Eles retribuíram o olhar e percebi, naqueles pequenos pares de olhos, uma nota de mágoa. Tentei me aproximar, mas já era tarde demais. Eles levantaram vôo e chalrearam alto para que os outros que estavam na goiabeira os seguissem. Uma revoada verde se ergueu e partiu, cruzando o céu azul daquela manhã de verão.

Dennis Weberton Gonçalves - estudante do 5º período de Jornalismo e bolsista do CCDA

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