quarta-feira, 9 de junho de 2010

Caminhada 2.0 = 30 minutos da mata
Elisabeth Kimie Kitamura*

De mãos dadas com o celular 2.0, a intenção foi dar visibilidade às coisas simples e belas que nos rodeiam. Na trilha, aproveitar a luz ofuscante que penetra na mata foi essencial para captar com o “celular fotográfico”, as fotogênicas plantas que transitam do cerrado para a floresta amazônica. É uma mata acuada pelos loteamentos imobiliários, mas que resiste aos maus-tratos do homem e faz contemplar a riqueza e diversidade de suas formas, cores e sons.

Localização: Mata remanescente próxima à Universidade Federal de Rondônia - UNIR, cidade de Vilhena/ RO. Uma amostra da mata de transição do cerrado para a floresta amazônica seriamente comprometida pelo avanço dos loteamentos imobiliários nos limites da cidade.

*Professora do Departamento de Jornalismo da UNIR

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Minha Experiência na Amazônia


Sucata, porco e peixes: vestígios de “civilização”
Na década de sessenta, Rondônia passou por um grande processo de colonização. Na época, o governo militar, com o objetivo de povoar a região amazônica, implantou o projeto “Integrar para não entregar”, que atraiu muitos migrantes atrás de trabalho e das terras baratas oferecidas nesta região.

Mas, o processo de colonização se deu também por meio da grilagem de terras e da exploração ilegal de madeira; em que se derrubou grandes áreas da Floresta. Prova disso foi uma experiência que vivi no ano de 2002, quando ainda tinha dezoito anos. Morava no município de Cacaulândia e certo dia fui convidado por alguns amigos para caçar numa reserva florestal localizada na região.

Após andar alguns quilômetros dentro da mata, comecei a observar que existiam carreadores antigos, enormes aberturas nas florestas e sucatas de caminhões e tratores já em elevado estado de decomposição que, imaginei, foram abandonados ali há muito tempo. Dentre os objetos, pude ver um pneu velho, o pára-choque de um caminhão, peças de tratores e até os restos de um motor elétrico.

Curioso, perguntei a um senhor, antigo morador da região que se encontrava naquela caçada conosco, o porquê daqueles objetos em plena floresta. Ele explicou que eram derivados de invasões que ocorreram naquele local nas décadas de 70 e 80 e que aquelas peças foram levadas para lá com o objetivo de acelerar o processo de abertura de estradas e da conseqüente exploração das florestas. Seu Antonio, como se chamava, disse que no local houve muitos conflitos pela disputas de terras e que, por se tratar de uma reserva, os invasores logo foram expulsos dali, deixando para trás muitos objetos. Aqueles eram, então, os resquícios da colonização que perduraram à ação do tempo.Impressionante como raízes e folhagens traçaram seu percurso por entre aqueles objetos. Fiquei rodeando o lugar e observando detalhes de um antigo veículo: uma pequena árvore brotava de dentro de uma sucata de cabine; o motor antigo parecia servir de adubo para as enormes raízes que o entrelaçavam; o pneu velho, juntamente com as folhas secas, formava uma parceria perfeita, como se estivesse servindo de ninho para algum determinado bicho da floresta; o pára-choque, que estava inclinado sobre um tronco caído, servia como um adorno naquele cenário rústico.

Com os relatos de seu Antônio e com o que via, lembrei-me muito dos tempos de colégio. Sempre ouvia falar da colonização de Rondônia nas minhas aulas de história, mas não imaginava que ali tão próximo poderia haver prova viva.

Medo de animais
Ao longo de nossa caçada, encontramos um rio chamado Quatro Cachoeiras, muito lindo por sinal, que tinha este nome exatamente porque, de sua nascente até a sua deságua, formava quatro cachoeiras de médio porte. O rio tinha muitos peixes e alguns moradores da região iam até lá para pescar, um de nossos companheiros de caçada levou um rede de pesca e resolveu armá-la num determinado trecho do rio onde a água parecia parar e formar um grande poço. Entramos no rio e, nossa, como a água estava fria! Mas, não desanimamos. Armamos a rede e seguimos caminho em busca de caça - essa rede só iríamos retirar no volta.

Seguimos o percurso do rio, adentrando cada vez mais na mata fechada. Quando já pensávamos em voltar, pois já passavam das cinco horas da tarde, avistamos um bando de porcos do mato, que pareciam devorar tudo o que viam pela frente e que pudesse ser comido. Eu, marinheiro de primeira viagem, senti as pernas estremecerem de medo dos terríveis porcos. Então começou a correria: os cachorros acuavam de um lado, os homens cercavam de outro, um deles sacou uma espingarda enquanto o outro já estava em posição de disparar, quando se ouviu um grito pedindo que não atirassem, pois do outro lado tinha gente cercando os porcos também.

E eu ali, parado, como se estivesse criado raízes no chão, tamanha era minha perplexidade diante daquela cena; fui interrompido de meu estado anestésico com o estampido de um tiro que ecoou por toda a floresta, como que numa enorme explosão. Silêncio. De repente, alguém perguntou: acertou? A resposta veio logo a seguir quando Mauro, um moreno alto e forte apareceu carregando nos ombros um enorme animal morto. O sangue banhava-lhe as costas, fazendo contraste com aquela pele queimada de sol. Aproximou do grupo, jogou o enorme porco no chão, sacou uma faca e começou a castrar o bicho. Curioso, perguntei por que castrar o animal depois de morto. Ele explicou que os porcos do mato, assim como os porcos domésticos, precisam ser castrados para não deixarem um cheiro forte na carne depois de limpa.

Depois disso, pegamos a trilha de volta, agora com uma carga extra. Já anoitecia e tínhamos que apressar o passo. Eu já estava exausto com toda aquela aventura, quando paramos novamente – só aí lembrei que ainda teríamos de retirar a rede que havíamos armado no rio. Dois de nossos companheiros pularam na água, verificaram a rede, identificaram os peixes e pediram ajuda de mais alguém para retirá-los da água. Para meu desespero, eu fui o escolhido. Em princípio eu disse que não. Mas, eles insistiram e eu acabei entrando no rio, mesmo com muito medo. Depois que estava lá dentro meu medo acabou e a emoção de estar pegando aqueles enormes peixes foi superior.

Ao sairmos do rio, já estava escuro. O caminho de volta foi um pouco complicado, pois só tínhamos três lanternas, mas, também fez parte de nossa aventura.

Dione dos Santos - estudante do 4º período de Jornalismo e bolsista do CCDA

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Minha Experiência na Amazônia

Bucolismo na cidade

Acordei cedo naquele dia. Minha agenda estava lotada. Eram tantos assuntos para resolver que eu pensei que não conseguiria dar conta de todos. Vida de universitário não é nada fácil. Principalmente, quando você tem professores que adoram “recomendar” leituras e depois te mandam fazer análises, resenhas, matérias jornalísticas e provas. Eu não trabalhava fora e tinha o tempo para estudar, mas mesmo assim, não estava conseguindo finalizar os múltiplos trabalhos que os meus queridos mestres não paravam de passar.

Eram sete horas da manhã. Levantei, fui ao banheiro, joguei uma água no rosto, escovei os dentes e me dirigi à cozinha com a intenção de preparar um café. Quem sabe ele me desse ânimo para realizar os meus trabalhos?

Enquanto esquentava a água para coar o pó, fui para a varanda ver o tempo. O céu estava muito azul e não consegui avistar nenhuma nuvem tenebrosa que indicasse chuva. Algo realmente difícil de acontecer em Vilhena. Os raios solares batiam em meu rosto. Em pouco tempo eu estava vermelho e achei melhor aplicar o protetor solar antes de sair de casa.

Coei o café com rapidez e tratei de mandá-lo goela abaixo o mais depressa possível. Tinha de ir para a Universidade pesquisar alguns assuntos para um trabalho. Em seguida, comi um pedaço de pão amanhecido com a mesma agilidade que engoli o café, só que esse desceu com um pouco mais de dificuldade. Dei mais uma bebericada no líquido fumegante e pronto. Estava saciado, embora soubesse que após algumas horas teria uma azia brutal.

Antes de sair de casa voltei à varanda para estender minha toalha de banho e ouvi um barulho conhecido. Moro no terceiro andar de um condomínio não tão novo e espaçoso como eu gostaria que fosse (ele deve ter pelo menos uns vinte anos e seus apartamentos se resumem a um quarto, um banheiro, uma sala-cozinha e uma pequena varanda, tudo excessivamente pequeno), mas é o que o meu dinheiro (quer dizer, o dinheiro dos meus pais) pode pagar. Fazer o que? Quando decidimos sair do conforto da casa dos nossos pais para estudar fora é isso o que acontece!

Voltando ao assunto do barulho. Olhei para o terreno baldio à minha frente e nele havia uma grande goiabeira, muito mato, além do lixo que os vizinhos jogavam sem nenhum receio. O pé de goiaba. Era de lá que vinha aquele barulho estridente. Em uma primeira olhada não consegui visualizar nada, porém, ao deter meus olhos em um lugar específico (um galho mais acentuado da árvore) enxerguei pequenos seres de coloração verde. (não, não eram E.Ts). Eles subiam e desciam nos galhos da árvore se misturando com as folhas da goiabeira.

Um bando de periquitos esverdeados fazia a festa chalreando alto e comendo os frutos amarelos da árvore. Eu, que estava com pressa, parei para olhar aquele momento feliz. De repente, dois deles levantaram vôo e vieram pousar no telhado do condomínio, próximo do meu apartamento.

Corri para o quarto e peguei a minha câmera fotográfica digital. Era um momento que eu não poderia perder. Voltei para a varanda onde os verdes periquitos chalreavam com intensidade e me deparei com os dois tentando fazer um ninho entre o telhado e a laje. Havia um pequeno buraco que eles tentavam entrar, mas não conseguiam.

Disparei uma série de flashes em direção aos pobres passarinhos. Eles ficaram assustados e voaram para cima do telhado novamente.

Desanimado, visualizei as fotos e não gostei. Ficaram totalmente desfocadas. Coisas de um iniciante no mundo da fotografia. Quando achei que tinha perdido a chance de fotografar os periquitos, ouvi novamente o barulho de suas vozes. Fiquei feliz e tentei dessa vez não usar o flash da câmera.

Fotografei-os nas mais variadas posições. Achando-me o profissional em fotografia, subi no parapeito da varanda para ter uma visão melhor do casal que tentava inutilmente abrir com os bicos o pequeno buraco. Apertei o obturador da câmera e registrei aquele penoso momento. Só que eu esqueci que estava no terceiro andar e que, ao contrário daqueles passarinhos, eu não possuía asas. Me desequilibrei e quase caí lá de cima. Acho que isso assustou o casalzinho, que voou mais uma vez para o telhado.

Recuperei-me do susto e voltei para o interior do “apertamento”, desapontado. Visualizei as imagens e selecionei as melhores. Bem, aquelas que eu considerei menos fora de foco.
Guardei a câmera na mochila juntamente com o restante do material. Fui à varanda buscar o boné que tinha lavado no dia anterior e vi os periquitos empoleirados no pau onde estavam amarrados os fios do varal.

Olhei fixamente para os dois e me arrependi de ter guardado o aparelho fotográfico. Eles retribuíram o olhar e percebi, naqueles pequenos pares de olhos, uma nota de mágoa. Tentei me aproximar, mas já era tarde demais. Eles levantaram vôo e chalrearam alto para que os outros que estavam na goiabeira os seguissem. Uma revoada verde se ergueu e partiu, cruzando o céu azul daquela manhã de verão.

Dennis Weberton Gonçalves - estudante do 5º período de Jornalismo e bolsista do CCDA

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Minha Experiência na Amazônia

Viagem pelo rio Madeira
A primeira vez que fui a Porto Velho foi inesquecível. Não era uma viagem qualquer, era a primeira vez que eu ia à cidade e, também, a primeira vez participando de um festival de cinema, o Cine Amazônia.

Tudo me encatava: o entusiasmo dos colegas, a euforia dos organizadores, a chegada dos convidados, a programação. A única coisa que me incomodava era o calor excessivo e o estado precário da cidade – como o mau cheiro e a sujeira em ruas e calçadas. Ainda assim, perto do que eu sentia, eram apenas detalhes.

A abertura do Cine Amazônia não ocorreu conforme o previsto, por faltar energia. Mas, nem isso abateu meu entusiasmo. Voltei para o hotel e fui beber um pouco de vinho com a colega Giliane, para aliviar o cansaço.

No dia seguinte, à tarde, foi realizada a amostra oficial dos filmes concorrentes e participantes. Foi “a abertura”, esdrúxula perto do que estava planejado na noite passada, mas foi. Não deixou de ser emocionante. Principalmente com as palavras do cineasta Geraldo Sarno, elucidando a importância do cinema na sociedade como transmissor dos papéis sociais.

As amostras de filmes continuaram nos dias seguintes. Os lugares de exibição eram os mais diversos: no circo, no terreiro, às margens do rio Madeira. Aliás, aí que realmente começa a história: às margens do rio Madeira. Todas as outras mostras foram excepcionais, mas ver filme junto à comunidade São Sebastião, à beira do rio, foi uma experiência inigualável. Aquela noite estrelada de quinta-feira ficou ainda mais bela com o reflexo das luzes do porto no rio, o som aconchegante das águas e a visão curiosa de um primeiro passeio de balsa até chegar ao destino de São Sebastião.

Todas as pessoas a bordo demonstravam um ar diferente. As pessoas, as câmeras, livros e revistas de mãos em mãos, formavam uma espécie de “mundo de cinco minutos” – o tempo da viagem pelo rio.

Ao chegar à comunidade São Sebastião, me deparei com um boteco à beira-rio (que como qualquer outro boteco vendia coisas simples como pinga Oncinha, cerveja Crystal, salgadinhos do tipo “esquini”, mortadela, tocava Reginaldo Rossi e Trio Parada Dura), duas ou três casas de madeira ao fundo, uma paróquia da Igreja Católica, também de madeira, e um barracão onde ocorreria o festival. No barracão, havia cerca de 120 pessoas, entre moradores e visitantes.
Entrei para assistir o início, mas logo saí, pois estava muito quente. Fui para o simpático boteco comer, beber uma cerveja e fumar um cigarro. Havia cerca de dez pessoas conversando, bebendo, olhando o rio. E dentre essas pessoas uma se destacava: Paulão.

Guia-lavrador-pescador
Paulão era um sujeito simples: aparentava ter 36 anos, moreno, baixo, e estava “pra-lá-de-Bagdá”. E penso que sua embriaguês contribuiu para o momento.
Minha conversa com Paulão começou quando pedi uma cerveja. Ele manifestou-se na hora: “e aí parceiro, você é do Rio, do Rio de Janeiro?” perguntou, incessantemente. Logo eu disse que não, que era do interior de Rondônia. Vi que a conversa ia render frutos e pedi outro copo. “Vamos tomar uma?”, perguntei ao Paulão. Ele nem pensou duas vezes para responder e aceitou o convite. A partir daí começamos uma conversa “histórica”.

A primeira coisa que perguntei a Paulão foi seu nome e, depois, de onde ele era. Diante dessas duas perguntas ele desenhou os caminhos de sua vida. Começou falando que era uma espécie de guia ambiental – expressão, aliás, que repetiu várias vezes – e que conhecia muitas pessoas da Petrobrás, alguns pesquisadores americanos e outras pessoas “importantes”.

Paulão disse que o fluxo de estrangeiros na região era demasiado. Falava muito de estadunidenses que visitavam o local para pesquisa e turismo. De repente, mudei a rota do assunto, perguntei-lhe sobre as doenças (como malária e dengue). Ele falou que esse tipo de coisa era rotina na comunidade, que já não assustava os moradores. Ah, já ia me esquecendo, meu colega Neto, nesse momento, também estava conosco. Ele perguntou sobre os primeiros socorros em caso de mordida de cobra – freqüente na região. Paulão disse que o que acontecia ali, resolvia ali mesmo. Alegou também que de vez em quando iam enfermeiras ou médicos visitá-los. Mas, apenas lembrando, iam “de vez em quando”.

Ele falou bastante de suas viagens e de sua família. Mas o que ele não escondia era sua profissão de sangue: pescador. O que Paulão falava, de fato com entusiasmo, era de sua vida de pescador. O orgulho transbordava nas palavras do ribeirinho. Ribeirinho, guia ambiental e pescador, transformava-se também em lavrador em tempos de seca. Aí, durante esses meses de plantação no interior, a saudade da família e do Madeira apertava, reclamou. Seu destino era incerto e seu humor era bom e embriagado.

Sandro Melo Vieira - estudante do 4º período de Jornalismo e bolsista do CCDA

Memórias, pessoas e ambientes


Paulão vez ou outra vai à mercearia tomar cerveja e conversar com os turistas do Madeira. Certo dia, surpreende um de nossos narradores e tece uma conversa. Assim, torna-se um personagem: o homem que vive à margem do rio e que tem uma profissão para cada estação do ano. Lavrador, guia ambiental ou pescador, tanto faz, só vai depender se chove ou faz sol.

José Márcio é índio desaldeado. Seu povo, Fulni-ô, que um dia viveu no Pará, largou em massa a terra para tentar a vida na cidade, desfez das marcas tribais para realizar o sonho da "prosperidade" em outra aldeia: a global. Hoje, trabalhando em um frigorífico no município rondoniense de Vilhena (onde foi descoberto por outro de nossos narradores, seu colega de serviço), José Márcio conta que vê os parentes de tempos em tempos, mas não tem mais referência geográfica. Não gosta de telefone e lembra com orgulho da "dança da chuva".

Hilda usa roupas curtas e gosta de conversar. É faxineira e lavadeira, migrou de Mato Grosso para Rondônia, cria um filho adolescente sozinha e vive às voltas com o coração. É passional nas mínimas atitudes. Quando vai definir a vida, diz que não aceita o sofrimento. E ponto. "Eu tenho que estar forte". Ficou conhecida quando bateu papo com seu vizinho de prédio, por sorte, um narrador amazônico.

Com o sol forte de Ariquemes (RO), Amabile, de tão branquinha, ganhou sardas no nariz. Cresceu por lá e um dia atravessou o estado, vindo parar na última cidade antes do Centro-Oeste, Vilhena. Filha e irmã de garimpeiros, insiste em quebrar preconceitos relacionados ao trabalho que sustenta sua família. Até arrisca a escrever sobre uma substância química e poluente chamada azougue. Coisa que pra ela um dia foi brinquedo. Ana Cláudia tem bochechas chamativas como o urucum. Certas férias, foi passear na casa dos pais, em Pimenta Bueno (RO) e quase não voltou a Vilhena: "é difícil ficar longe do meu habitat". Com essa naturalidade de quem reconhece o campo como morada, afirma que as sucuris são bonitas e que seu prazer está bem longe da cidade. Um dia, surpreendeu, com uma fotografia nas mãos: "Professora, olha que cobra bonita, tem três cores!". Vinda da Bahia ainda pequena, cresceu na roça que o pai, colono, recebeu do governo. Ao contrário de Paulão, José Márcio e Hilda, essas duas não foram "descobertas", se apresentaram. E, assim como outros estudantes de Comunicação Social/Jornalismo que integram este projeto, aceitaram falar de si, antes de falar do outro - tarefa complicada para os repórteres do dia-a-dia, que pouco se reconhecem em primeira pessoa.

O que tanta gente diferente tem em comum? O território. Todos fazem da Amazônia sua morada e, com isso, sua referência de vida. Neste blog, você acompanhará relatos cotidianos de sobrevivência na Floresta que vão muito além de políticas públicas, campanhas, discursos ou das várias idéias que o resto do mundo tem deste lugar. Seja pelas memórias de nossos narradores, que contam suas experiências, ou pelos perfis jornalísticos de pessoas e ambientes, você verá aqui o resultado de um trabalho de imersão no outro - na dor, no aprendizado e no pensamento do outro - como reflexão para nossa história coletiva. Bem-vindo!


Professora Patrícia da Veiga Borges
Coordenadora de Extensão do Centro de Comunicação Digital da Amazônia